A REALIDADE DO RIO GRANDE DO SUL E A CRISE ECOLÓGICA
Diante das dificuldades da vida como doenças, catástrofes, perdas irreparáveis, a primeira atitude humana que surge é lembrar de pedir a Deus que livre, que ajude, que faça cessar a situação, que defenda do mal. Por que guerras que matam tanta gente inocente, geram tantos desabrigados, uma multidão de deslocados e deserdados de sua terra? Por que milhões e milhões de seres humanos passam fome e morrem nessa situação? Por que o Rio Grande do Sul-Brasil vive este tempo dramático de enchentes, deslizamentos, perdas e tanto sofrimento?
Raramente o ser o humano se dá conta e dirige a si próprio estas perguntas. Ou, reflete sobre seu comportamento individual ou coletivo relacionados a catástrofes; sobre os sistemas que regem a sociedade ou que sistema, que paradigma de vida ele segue, se identifica ou ajuda alimentar. E, quando se pergunta, é porque foi terrivelmente surpreendido, sobretudo pelos eventos climáticos sem precedentes e sem respostas; não sabe exatamente por que isso acontece e que, possivelmente, não há uma única causa, mas um somatório de fatores. Tudo está interligado.
O Papa Francisco, desde 2015, chega até os seres humanos, até a humanidade, os coletivos, os sistemas e emite o grande alerta: “o Planeta é casa comum do toda a cadeia de vida, inclusive dos humanos de todas as raças, indistintamente. Contudo há quase 20 anos, quem acorda e dá seu alerta, geme de dor e grita é o próprio Planeta. “Escutai o clamor da terra, do Planeta Terra, foi a reflexão de um dos temas do tempo da criação: Hoje, a prevalência de incêndios não naturais é um sinal dos efeitos devastadores que as mudanças climáticas têm sobre os mais vulneráveis. A criação grita enquanto as florestas crepitam, os animais fogem e as pessoas são forçadas a migrar devido ao fogo da injustiça”. (Tempo da Criação, 2022)
ATIVIDADE DESCONTROLADA DO SER HUMANO
As situações catastróficas têm despertado, na humanidade, a escuta do outro, do pobre, do necessitado. Porém, os documentos do Papa Francisco alertam para a escuta do Planeta terra e a escuta do pobre.
O povo do Rio Grande do Sul, ao viver em situação catastrófica, despertou para a escuta do grito do necessitado e a escuta do planeta terra? O grande desafio não é para o individual. Muitos já despertaram. O grande desafio está em relação aos sistemas políticos e econômicos, a partir de discernimento, decisões coletivas sistêmicas, capazes de fazer cessar as guerras, a fome, a devastação, a destruição, a sustentação da defesa da vida deslocada de suas terras. É preciso ouvir o grito da terra e do pobre.
Por que os líderes políticos, econômicos e sociais mundiais não obedecem às orientações dos documentos da Igreja? No documento Laudato Si, 2015, Papa Francisco reúne as preocupações dos Líderes católicos com a Casa Comum, num percurso de mais de 50 anos.
LAUDATO SI
“Mais de cinquenta anos atrás, quando o mundo estava oscilando sobre o fio duma crise nuclear, o Santo Papa João XXIII escreveu uma encíclica na qual não se limitava a rejeitar a guerra, mas quis transmitir uma proposta de paz. Dirigiu a sua mensagem Pacem in Terris a todo o mundo católico, mas acrescentava: e a todas as pessoas de boa vontade. Agora, à vista da deterioração global do ambiente, quero dirigir-me a cada pessoa que habita neste planeta. Na minha exortação Evangelii Gaudium, escrevi aos membros da Igreja, a fim de os mobilizar para um processo de reforma missionária ainda pendente. Nesta encíclica, pretendo especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum”. (LS 3)
Oito anos depois da Pacem in Terris, em 1971, o Beato Papa Paulo VI referiu-se à problemática ecológica, apresentando-a como uma crise que é “consequência dramática” da atividade descontrolada do ser humano: “Por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, [o ser humano] começa a correr o risco de a destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação”. E, dirigindo-se à FAO, falou da possibilidade duma “catástrofe ecológica sob o efeito da explosão da civilização industrial”, sublinhando a «necessidade urgente duma mudança radical no comportamento da humanidade», porque “os progressos científicos mais extraordinários, as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento econômico mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e moral, voltam-se necessariamente contra o homem”. (LS 4)
São João Paulo II: “não dar-se conta de outros significados do seu ambiente natural, para além daqueles que servem somente para os fins de um uso ou consumo imediatos”. Mais tarde, convidou a uma conversão ecológica global. Entretanto fazia notar o pouco empenho que se põe em “salvaguardar as condições morais de uma autêntica ecologia humana”. A destruição do ambiente humano é um fato muito grave, porque, por um lado, Deus confiou o mundo ao ser humano e, por outro, a própria vida humana é um dom que deve ser protegido de várias formas de degradação. Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas “nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades”. O progresso humano autêntico possui um carácter moral e pressupõe o pleno respeito pela pessoa humana, mas deve prestar atenção também ao mundo natural e “ter em conta a natureza de cada ser e as ligações mútuas entre todos, num sistema ordenado”. Assim, a capacidade do ser humano transformar a realidade deve desenvolver-se com base na doação originária das coisas por parte de Deus. (LS 5)
Bento XVI: “eliminar as causas estruturais das disfunções da economia mundial e corrigir os modelos de crescimento que parecem incapazes de garantir o respeito do meio ambiente” “o livro da natureza é uno e indivisível”, o ambiente, a vida, a sexualidade, a família, as relações sociais. “A degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana”... o ambiente natural está cheio de chagas causadas pelo nosso comportamento irresponsável; o próprio ambiente social tem as suas chagas. ... “o homem não é apenas uma liberdade que se cria por si própria. O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza”. Com paterna solicitude, convidou-nos a reconhecer que a criação resulta comprometida “onde nós mesmos somos a última instância, onde o conjunto é simplesmente nossa propriedade e onde o consumimos somente para nós mesmos. E o desperdício da criação começa onde já não reconhecemos qualquer instância acima de nós, mas vemo-nos unicamente a nós mesmos”. (LS 6)
O Patriarca Bartolomeu tem-se referido particularmente à necessidade de cada um se arrepender do próprio modo de maltratar o planeta, porque “todos, na medida em que causamos pequenos danos ecológicos”, somos chamados a reconhecer “a nossa contribuição – pequena ou grande – para a desfiguração e destruição do ambiente”. “Quando os seres humanos destroem a biodiversidade na criação de Deus; quando os seres humanos comprometem a integridade da terra e contribuem para a mudança climática, desnudando a terra das suas florestas naturais ou destruindo as suas zonas húmidas; quando os seres humanos contaminam as águas, o solo, o ar... tudo isso é pecado”. “Um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus”. (8)
... “Aceitar o mundo como sacramento de comunhão, como forma de partilhar com Deus e com o próximo numa escala global. É nossa humilde convicção que o divino e o humano se encontram no menor detalhe da túnica inconsútil da criação de Deus, mesmo no último grão de poeira do nosso planeta”. (9)
O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. (LS 13)
Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal. “São necessários os talentos e o envolvimento de todos para reparar o dano causado pelos humanos sobre a criação de Deus”. (22) Todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades. (LS 14)
EIXOS DA ENCÍCLICA
Alguns eixos que perpassam a encíclica:
Papa Francisco lembra, nesta encíclica, Laudato Si, de que a Terra é irmã, é mãe que sustenta e governa, produz frutos de subsistência. Portanto, a Terra é viva, sustenta a mais admirável interconexão entre a teia da vida por ela criada e sustentada. Por isso mesmo é que clama contra todo o mal que lhes está sendo provocado, devido ao uso irresponsável e abuso dos bens que nela contém. A Terra oprimida e devastada, “geme e sofre as dores do parto” (cf Rm 8,22).
Há oito anos da Laudato Si, Papa Francisco partilha com os irmãs e irmãos sua preocupação com os maus tratos ao Planeta, como também expressa sua profunda preocupação pelo cuidado da casa comum. Com profunda tristeza, constata que a humanidade não está reagindo de modo satisfatório, pois este mundo que acolhe a grande riqueza da teia da vida, está se desfazendo e, talvez, aproximando-se de um ponto de ruptura. O impacto da mudança climática prejudicará cada vez mais a vida de muitas pessoas e famílias, em termos de saúde, emprego, acesso aos recursos, habitação, migrações forçadas e em outros âmbitos.
CONSEQUÊNCIAS NA VIDA DOS POVOS
As alterações climáticas são um dos principais desafios que a sociedade e a comunidade global têm de enfrentar. (cf LD 3). Os bispos, presentes no Sínodo para a Amazônia, disseram em poucas palavras: “Os ataques à natureza têm consequências na vida dos povos”.
E, para sublinhar que já não se trata de uma questão secundária ou ideológica, mas de um drama que prejudica a todos, os bispos africanos declararam que as alterações climáticas evidenciam “um exemplo chocante de pecado estrutural”. Seca e outros gemidos da terra, são apenas algumas expressões palpáveis de uma doença silenciosa que afeta a todos. Sem generalizar, é possível verificar que certas mudanças climáticas, induzidas pelo homem, aumentam significativamente a probabilidade de fenômenos extremos mais frequentes e mais intensos. Pois, sempre que a temperatura global aumenta 0,5 grau centígrados, sabe-se que aumentam também a intensidade e a frequência de fortes chuvas e inundações em algumas áreas, graves secas em outras, de calor extremo em algumas regiões e fortes nevadas em outras. Se até agora podia se ter ondas de calor algumas vezes no ano, que aconteceria se a temperatura global aumentasse 1,5 graus centígrados, de que aliás já está perto? Tais ondas de calor serão muito mais frequentes e mais intensas. Se superarem os 2 graus, as massas glaciares da Groelândia e de grande parte da Antártida derreter-se-ão completamente, com consequências enormes e muito graves para todos. Todos os sintomas extraordinários são apenas expressões alternativas da mesma causa: o desequilíbrio global causado pelo aquecimento do planeta.
Falar de fenômeno global, não pode ser confundido com eventos transitórios e mutáveis, que, em grande parte, se explicam por fatores locais. É preciso considerar que, à primeira vista, habitualmente, a culpa pareceria ser dos pobres. Mas, a realidade é que uma reduzida percentagem mais rica do planeta polui mais do que o 50% mais pobre de toda a população mundial e que a emissão per capita dos países mais ricos é muitas vezes superior à dos mais pobres. Basta ver que a África, que abriga mais da metade das pessoas mais pobres do mundo, é responsável apenas por uma mínima parte das emissões no passado.
A NECESSDEDADE DA INTERAÇÃO DOS SISTEMAS NATURAIS
A Laudato Deum aponta a origem humana – “antrópica” – da mudança climática já não se pode pôr em dúvida, pois a concentração na atmosfera dos gases com efeito estufa, que causam o aquecimento global, manteve-se estável até ao século XIX: abaixo das 300 partes por milhão em volume. Mas, a partir de meados daquele século, em coincidência com o progresso industrial, as emissões começaram a aumentar. Nos últimos cinquenta anos, o aumento sofreu uma forte aceleração, comprovada no observatório de Mauna Loa que efetua, desde 1958, medições diárias do dióxido de carbono: “Estava eu a escrever a Laudato Si’, quando se atingiu o máximo histórico – 400 partes por milhão – chegando, em junho de 2023, a 423 partes por milhão”, confirmando o total líquido das emissões desde 1850, mais de 42%, ocorreu depois de 1990.
De 1850 até hoje, a temperatura global aumentou 1,1 graus centígrados, fenômeno que se amplifica nas áreas polares. A este ritmo, é possível que, dentro de dez anos, tenha alcançado o limite máximo global de 1,5 graus centígrados. O aumento não se verificou apenas na superfície terrestre, mas também a vários quilômetros de altura na atmosfera, na superfície dos oceanos e mesmo a centenas de metros de profundidade. Isto aumentou também a acidificação dos mares e reduziu os seus níveis de oxigênio. Os glaciares retraem-se, a cobertura de neve diminui e o nível do mar aumenta constantemente.
É preciso considerar a vida; a inteligência e a liberdade do homem estão inseridas na natureza que enriquece o planeta, fazem parte das suas forças internas e do seu equilíbrio. “O grande problema atual é que o paradigma tecnocrático destruiu esta relação saudável e harmoniosa. Contudo, a indispensável superação deste paradigma tão nocivo e destruidor não se encontra numa negação do ser humano, mas passa pela interação dos sistemas naturais «com os sistemas sociais”. (LD 27)
CONSEQUÊNCIAS DO AQUECIMENTO GLOBAL DO PLANETA
Alertas vem sendo emitidos constantemente, e estes encontram barreiras enormes até chegar à consciência, aos sistemas políticos, econômicos, sociais educacionais, capazes de gerar a tão sonhada mudança de estilo de vida em favor do Planeta Terra. Vejamos alguns: “Cidades brasileiras e países insulares correm risco de submersão até 2100. Em contrapartida, segundo a Unesco, apenas 25% do fundo do oceano está mapeado, enquanto zonas profundas aquecem em ritmo sem precedentes”. A reportagem é publicada por Aprova Total, 08-06-2024.
“Com o planeta se aquecendo a cada ano que passa, o gelo das montanhas polares começa a derreter, e toda a água que estava congelada vai para os oceanos, elevando o nível do mar”, explica o biólogo e mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental, Paulo Jubilut, professor no Aprova Total. O Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) prevê um aumento médio do nível do mar de pouco mais de um metro até 2100. No entanto, os cientistas alertam que, se as emissões de gases do efeito estufa continuarem aumentando, esse número pode chegar a dois metros em 2100 e a cinco metros em 2150.
Segundo dados divulgados no ano passado pela Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, nos últimos 30 anos o nível dos oceanos teve uma elevação média de nove centímetros. O novo relatório divulgado pela Unesco destaca não haver dúvidas de que esse processo irá acelerar – ou melhor – está acelerando em decorrência do aquecimento global do planeta, resultado do excesso de emissão de gás carbônico e de outros gases de efeito estufa provocada pelo homem.
Além disso, uma pesquisa conduzida pela Climate Central, organização sem fins lucrativos, baseada em dados fornecidos pela NASA, indica que diversas cidades brasileiras podem ficar submersas até 2100. Entre as cidades afetadas estão Cabo Frio (RJ), Belém (PA), Ilha do Marajó (PA), Oiapoque (AP), Porto Alegre (RS), Santos (SP), Fortaleza (CE) e Pelotas (RS).
A URGÊNCIA DA A RESTAURAÇÃO DAS ÁREAS NATURAIS
As pesquisas científicas enfatizam a importância de uma ação global coordenada para combater o aquecimento global e suas consequências em todos os oceanos. Isso inclui a redação drástica das emissões de gases de efeito estufa, o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e a promoção de práticas ambientais responsáveis. Estudo apresentado pelo climatologista Francisco Eliseu Aquino no debate virtual intitulado “Colapso Climático no Rio Grande do Sul. Causas, desafios e perspectivas”, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU em 14-09-2023.
“Não temos dúvida técnica e científica de que a mudança climática atual é muito acelerada e totalmente antrópica”, segundo ele, os cálculos comparativos acerca das emissões de gás carbônico decorrentes das erupções vulcânicas das últimas décadas e das emissões de gases do efeito estufa geradas pela humanidade indicam que as primeiras são dezenas de vezes inferiores às taxas emitidas pela humanidade.
Segundo Aquino, “a grande aposta que temos para o enfrentamento da crise de emergência climática é a restauração das áreas naturais o mais rápido possível”. A recuperação de áreas úmidas, sublinha, “é importante porque as áreas de banhado são amortecedores de cheias, são o berço de biodiversidade e mantêm o sistema climático funcionando”. E acrescenta: “Essa é a melhor forma de amenizarmos o aumento da temperatura global e o aumento de eventos extremos e inundações. Isso é urgente e precisa ser feito de norte a sul no planeta”.
A continuidade da devastação de áreas de preservação ambiental, de encostas, de margens de rios, de matas ciliares, acelera a entrada da água no sistema e obviamente acelera a inundação. Não se pode mudar uma cidade da noite para o dia, mas é possível elaborar um plano para que em 15 ou 20 anos a cidade seja mais bem estruturada e organizada. Não há dúvida técnica e científica de que a mudança climática atual é muito acelerada e totalmente antrópica.
CHAMADO A UM NOVO ESTILO DE VIDA
Quando a humanidade se confronta com fundamentais situações caóticas que podem ameaçar sua existência, não lhe resta outro caminho senão mudar. O caminho melhor é consultar a própria natureza humana. Embora contraditória (sapiente e demente), ela se caracteriza por ser um projeto infinito, carregado de potencialidades. Dentro destas potencialidades podem se identificar elementos de uma ordem diferente e melhor.
Esta se fundará, necessariamente, numa nova relação para com a natureza, afetiva e respeitosa, sentindo-se parte dela; no amor que pertence o DNA humano; na solidariedade que permitiu o salto da animalidade para a humanidade; na fraternidade universal, baseada no mesmo código genético, presente em todos os seres vivos; no cultivo do mundo do espírito que também pertence à essência do ser humano. Este o torna cooperativo e compassivo e revela que há um nó de relações voltadas em todas as direções até para com Aquele Ser que faz ser todos os seres. Desta forma, o ser humano sairia do caos destrutivo rumo ao caos generativo.
São alguns elementos, entre muitos outros que poderiam fundar uma nova ordem e forma de habitar amigavelmente o planeta Terra, tido como Casa Comum, a natureza incluída. E assim superar o caos destrutivo rumo a um caos generativo com um outro horizonte de vida e de futuro civilizatório. Documentos da Igreja, debates e análises cientificas apontam que há mais de cinquenta anos vem sendo emitidos alertas sobre a necessidade de abandonar o paradigma do lucro e das formas de poder que derivam da tecnologia; procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso; respeitar o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia com a proposta de um novo estilo de vida.
"Cabe a nós, como pessoas e como coletividade, pensar e repensar com a maior seriedade, colocar e recolocar esta questão: dentro da situação mudada de Terra e da humanidade e das ameaças que pesam sobre elas não representa puro sonho e utopia inviável buscar um espírito da fraternidade universal entre os humanos e com todos os seres da natureza e realizá-lo coletivamente. Esta será a grande saída que nos poderá salvar", escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor.
Ir. Iraci de Fátima Cirino dos Santos
Nosso site não utiliza cookies próprios, mas integra funcionalidades de terceiros que enviarão cookies ao seu dispositivo. Ao continuar navegando, esses cookies coletarão dados pessoais indiretos. É recomendável que você se informe sobre os cookies de terceiros. Ao prosseguir, você concorda com nossa Política de Privacidade e Política de Cookies.