“MODELOS VINCULARES E VIDA CONSAGRADA: ENTRE AFETOS, ESCUTA E TRANSFORMAÇÃO”
No cotidiano da vida consagrada, muitas vezes somos chamadas a revisitar nossas relações com Deus, conosco e com o próximo. Foi nesse espírito de escuta e aprofundamento que nós, Irmãs de São José de até 60 anos, nos reunimos em um encontro online assessorado pela Psicóloga Ana Reis, cujo tema central foi sobre “Modelos Vinculares”. Mais do que uma formação, foi um tempo de acolhimento, partilha e reconexão com nossas histórias afetivas e espirituais.
A partir da teoria do apego, Ana nos convidou a olhar com ternura e coragem para os vínculos que nos constituem. Cada uma de nós carrega dentro de si uma rede de afetos, marcas e aprendizados construídos ao longo da vida. Alguns desses vínculos nos sustentam; outros, ainda pedem cura. Reconhecer isso é um ato de humildade e de amor.
CHAVES PARA COMPREENDER COMO SENTIMOS, REAGIMOS E AMAMOS
Durante a reflexão, fomos apresentadas aos três modelos de apego: o seguro, o evitante e o ambivalente. Apego seguro: A criança se sente segura para explorar o ambiente porque confia que a figura de apego estará disponível quando necessário. Na vida adulta, essa pessoa tende a ter relações equilibradas, com boa capacidade de confiar, expressar sentimentos e lidar com conflitos. Apego evitante: A criança evita buscar proximidade ou expressar emoções, geralmente porque aprendeu que suas necessidades emocionais não serão atendidas. Na vida adulta, tende a ser mais distante, racional, com dificuldade em demonstrar afeto ou confiar plenamente. Apego ambivalente (ou ansioso): A criança vive uma relação instável, às vezes atendida, outras vezes ignorada. Desenvolve insegurança e medo de abandono. Na vida adulta, isso pode se manifestar em relações muito intensas, dependentes ou com muita ansiedade em relação ao outro.
Esses modelos não nos aprisionam, mas nos oferecem chaves para compreender como sentimos, reagimos e amamos. E, mais importante ainda, nos ajudam a perceber que podemos transformar nossos modos de vincular-se. Ao identificar nossos padrões, abrimos espaço para o cuidado, para o crescimento e para vínculos mais saudáveis e libertadores.
QUE TIPO DE PRESENÇA TENHO OFERECIDO ÀS PESSOAS?
Falamos também sobre as emoções, essas companheiras tão humanas, que às vezes nos atropelam, mas que, quando reconhecidas e acolhidas, tornam-se ponte para a empatia e a compaixão. Compreender que a empatia é mais do que “sentir com” é também saber escutar o outro com responsabilidade e presença e nos desafia a construir relações mais verdadeiras, mais comprometidas com a vida do outro.
Ao longo do encontro, cada palavra foi ecoando em nossa interioridade, despertando memórias, afetos e perguntas. Como tenho me vinculado? Que tipo de presença tenho oferecido às pessoas com quem convivo? Tenho cultivado vínculos que acolhem, que fortalecem, que curam?
O QUE SUSTENTA A VOCAÇÃO É A CAPACIDADE DE AMAR COM MATURIDADE
Na vida consagrada, onde o viver em comunidade é vocação e missão, falar sobre modelos vinculares é falar sobre o chão onde nossos pés caminham todos os dias. É reconhecer que os laços que nos unem precisam ser cuidados, revisitados e, muitas vezes, reconfigurados à luz do Evangelho.
O encontro com Ana Reis foi uma pausa fecunda. Um respiro. Um convite a olhar para dentro e ao redor com mais delicadeza. Saímos fortalecidas e desafiadas a sermos mulheres de vínculos seguros, abertas ao diálogo, ao perdão, à escuta e à construção de comunidades mais humanas e compassivas. Porque no fundo, o que sustenta nossa vocação é a capacidade de amar com maturidade, de vincular-se com liberdade, de deixar-se tocar sem medo como Jesus, que viveu cada encontro com profundidade e ternura.
Ir. Eliete Dal Molin
Caxias do Sul
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